O coração da Saara, no Centro do Rio, virou um inferno por cerca de
cinco horas na noite de sexta-feira e madrugada deste sábado. Oito lojas
e sobrados foram destruídos por um incêndio de grandes proporções que
começou por volta das 22h de sexta em uma das sete lojas da Rede Caçula,
que fica entre os números 245 e 261 da Rua Buenos Aires.
Incêndio destrói sobrado no Centro | Foto: Osvaldo Praddo / Ag. O Dia
Bombeiros de seis quartéis conseguiram controlar as chamas - que se
propagaram rapidamente em materiais extremamente inflamáveis do estoque
como plástico, isopor, couro, tecidos sintéticos, tintas, solventes e
cola - por volta das 4h da manhã. Um bombeiro chegou a ser atingido
quando a fachada do prédio desabou. Ele foi atendido no local e teve
ferimentos leves. Não houve registro de outros feridos.
A loja da Perfumaria Lêdo também foi destruída. Testemunhas disseram
ter visto dois homens em cima do telhado do prédio pouco antes das
chamas. A hipótese de incêndio criminoso não está descartada.
Chamas iluminam sacada de prédio na Rua Buenos Aires, no Centro | Foto: Osvaldo Praddo / Ag. O Dia
"Somente perícia poderá apontar as causas, mas esses relatos de duas
pessoas no telhado e a velocidade com que as chamas se propagaram nos
obriga a não descartar a hipótese de crime. Tivemos muita dificuldade de
combater o fogo por se tratar de um imóvel antigo que, com a
temperatura de mais de 1000°C, teve a estrutura entrando em colapso, com
queda de lajes e paredes". avaliou o comandante-geral do Corpo de
Bombeiros e secretário de Defesa Civil, coronel Sérgio Simões.
Explosão de gás encanado na loja da Caçula assustou bombeiros e
curiosos. A principal preocupação da corporação foi resfriar os prédios
vizinhos para que as chamas não atingissem outros imóveis. Em um centro
comercial vizinho ao incêndio funcionam dois restaurantes. Os militares
arrombaram portas e jogaram água no teto para evitar que o fogo
atingisse este imóvel, pois havia a informação da existência de botijões
de gás nos dois restaurantes.
Bombeiros tentam apagar o fogo que destrói lojas na região da Saara | Foto: Osvaldo Praddo / Ag. O Dia
Segurança da Saara, Luís Afonso Leal, contou que demorou cerca de 40
minutos entre o primeiro contato que fez com o Corpo de Bombeiros pelo
celular e a chagada do primeiro caminhão-pipa da corporação. "Liguei
para 193 e só dava ocupado durante dez minutos. Eu vi o começo do fogo,
saía uma fumacinha e não conseguia falar com eles. Desisti e liguei para
a PM. Falei logo, mas a atendente do 190 disse que precisava confirmar
meu telefone e demorou mais dez minutos para ligar de volta e se
certificar que não era trote. Quando acionaram o bombeiro, as chamas já
estavam altas", relatou. Ainda de acordo com Luís, faltou água em
hidrantes e veículos no início do combate ao incêndio.
O coronel Sérgio Simões negou que tenha faltado água e ironizou a
informação sobre a demora para o atendimento. "A história sempre se
repete. Sempre há relatos que os bombeiros demoram em todas as
ocorrências no Rio de Janeiro, mas isso não se confirma com a
nossa presteza na ação. Garanto que chegamos aqui em 4 ou 5 minutos
depois da primeira ligação para o 193 e já sabíamos da extensão",
afirmou.
Incêndio de grandes proporções destrói lojas e sobrado na região da Saara | Foto: Osvaldo Praddo / Ag. O Dia
A Caçula é uma rede atacadista de materiais de papelaria, tecidos,
artesanato, bijuterias, armarinho e bazar. A loja da Saara também
funcionava como estoque de cerca de 90 mil itens para as outras 14
filiais da rede, 12 delas no Rio. Os donos da caçula, os irmãos Marco
Antônio Castro e Sebastião Castro estão em viagem fora da cidade por
conta do feriadão de Páscoa. Na Caçula da Saara trabalhavam cerca de 300
empregados. "Estava em casa, entrei em desespero e vim para cá. Não sei
como será agora. Meu trabalho é minha vida. É muito difícil ver isso
acontecendo com uma vida inteira de dedicação", lamentou Nágila
Gonçalves, de 58 anos, e que trabalhava na Caçula há 27.
De acordo com o coronel Sérgio Simões não havia ainda decisão sobre a
abertura da Rua Buenos Aires na manhã deste sábado, quando a Saara
deverá ter grande movimento de clientes por conta da Páscoa. "Vamos
realizar logo cedo uma avaliação com engenheiros e decidir sobre a
liberação da rua. Precisamos ter certeza de que não há risco de mais
desmoronamentos", adiantou o coronel.
Veja vídeo do incêndio:
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